quarta-feira, 28 de abril de 2010

nada pessoal

Carta ao DCE em forma de opereta, pode ser cantada por palhaçinhos pra alegrar o público enquanto aguardam um grande evento de Belo Horizonte.

1°ato
ou
de como pode ser lindo e barato fazer marketing
numa cidade patrimônio.


Ouro Preto Importa tudo
Nada diferente tudo igual.

Desde quando passamos a chamar Brasil
uma linha tênue dividiu:
o que é de fora é melhor
e se vier de cima, pago até mil!

(Estamos em Ouro Preto cidade fachada da humanidade, ou melhor, patrimônio. Tudo igual e a mesma coisa)

Eventos de fora se instauram em plena praça,
armam seu circo feliz de nomes slogan.

Nada mais natural, afinal
de Minas é a capital cultural!
Em frente do patrimonio lê-se: VIVO.
As vezes, Gerdau, as vezes Arcelormital
outras VALE.
Ouro Preto capital da cultura importada.
O que vai ter na praça?
Aqui ninguém sabe
Mas em BH já todo mundo sabe,
É de lá que eles vêem,
pra tocar, pra trabalhar,
pra armar o circo.
E aqui o que é que tem? não sei.
Tem uma praça ótima, Belorizontinos,
pra a visibilidade de vossos espetaculozinhos.

(Ouro preto capital da cultura mineira, irônico no mínimo? Frustrante pra quem faz cultura aqui)










2° ato
ou
de como promover seu evento

Palhaço bufão com as pontas dos dedos pintados de amarelo canta:

-Universidade Federal de Ouro Preto -Calourada Unificada, O que é que tem?
-Tem cultura alternativa em forma de culto aos micróbios, tem gente cantando : "Eu sou doidão /Não vou me curar".

Agora o palhaço faz cara de universitário sério para ressaltar seu posicionamento político:

“Vou pra Brasília vô fala com o presidente
Por decreto nessa gente, pra coisa legalizá!”

Voltam os palhacinhos felizes:

-E as bandas da Universidade?
-Ah! Claro que tem lugar pra elas. Tem um concurso. Vinte minutos pra cada um tá bom? Bandas independentes amam o que fazem, não tocam por dinheiro!!!OBA!

Palhaço com uma flautiha de bambu:
-Claro, ta ótimo!
Respondem felizes todos as bandas!

Palhaço com uma flautinha de bambu:

Quanta cerveja de graça, ops, quero dizer quanta cultura!
Dis que a banda que ganhasse o tal concurso, ganhava um show no dia seguinte. Ou disseram que abriria o show de uma banda de fora, super curt entelectual que até toca vestido de palhacinho??
parece que tem!,
parece que tem!
parece que vai ter.
Até parece.
Disseram isso e quilo outro.
Disseram tanto que agente até acreditou.
Acreditamos por alguns momentos que um DCE pudesse em seus eventos promover a cultura local.
Inocência a nossa.
Agente aprende na próxima.
Mas ainda me pergunto. Qual é nosso lugar?
Que lugar pra gente que sobra?
Que gente?
Gente?
é a rapa do tacho quando sobra.
Tudo igual, e a mesma coisa. Afinal é preciso público, quanto mais melhor
Querem ouvir as músicas que todos cantam, queremos aquele grupo que apareceu na TV, Só assim mais público só assim tudo igual e a mesma coisa.
Fácil, Extremamente fácil pra você e eu e todo mundo cantar junto


Nada de diferente do que tem acontecido em nossa cidade, em nosso país
tudo importado.
O que é daqui é o que menos importa!

(Palhacinho de flautinha na mão tira seu nariz vermelho)

Mas por que iríamos nós, míseros seres de lugar algum, que não levantamos bandeira de “República” ou partido, acreditar que pudéssemos tocar num evento promovido pelos alunos da universidade onde cultivamos nossa cultura?

Espetáculo termina como se nem tivesse começado.

fim

2 comentários:

Crala disse...

Muito bom, MC!

Henrique Dutra disse...

É Maria, sua reflexão é muito contundente. Onde esta o espaço para a cultura local? E mais do que isso, até que ponto, as pessoas farão "politias publicas de fachada", atravessado por esse discurso demagogico? (E me perdoem o preconceito, mas só engana mesmo quem veste a bandeira da republica).
Marchemos por uma luta de democratização da arte, de reconhecimento e acessibilidade tanto do publico para o artista, quanto do artista para seu publico. Viva a resistencia!
Viva as Maria´s, e Clara´s e Anticorpo´s...